O que há de comum entre o ex-ogro Sha (Jornada para o Oeste) e o feroz Monge Flor (Foragidos do pântano)? Ambos são representados com a mesma arma de aspecto curioso. O primeiro a trouxe dos Céus; a do último pesava impressionantes 36 quilos.
Apresento uma peça do arsenal monástico: a Espada da Lua Crescente.
A Espada da Lua Crescente (月牙鏟, o yuè yá chǎn) é uma combinação entre uma ferramenta de jardinagem achatada e uma foice modificada, e é considerada uma arma chinesa do tipo haste. Curiosamente, no início, era um instrumento de paz, não de matar. Os monges viajantes da antiga China levavam consigo sua predecessora – a Espada Conveniente (方便鏟, o fāng biàn chǎn) – para cumprirem com a responsabilidade monástica de realizar rituais de enterro para os mortos que encontravam em suas andanças.
As três curvas que definem a Espada representam os Três Poderes da cosmologia tradicional chinesa (Céu, Terra e Homem) e os Três Tesouros do Taoísmo (essência, qi e espirito). Com o tempo, no extremo oposto da haste, foi adicionada uma lamina em forma de lua crescente para ser usada para afastar animais predadores pelo pescoço, sem matá-los.
Pintura retratando Lu Zhishen
A versatilidade da Espada da Lua Crescente permite a seu dono enganchar, esfaquear, pendurar, varrer, golpear e cortar seus oponentes usando técnicas de luta de lança, vara, espada e tridente. Atualmente, os monges Shaolin e Taoistas são os principais usuários desta arma.
E assim, tornou-se a arma escolhida por Sha, que precisou dela para proteger o Monge Tang em sua perigosa viagem, e também por Lu Zhishen, que mostrou ter uma forte lealdade para com seus desafortunados bando de irmãos.