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A Orquestra Sinfônica do Shen Yun e o Maestro Milen Nachev estão prontos para a temporada de concertos de 2016.

Entrevista com o maestro Milen Nachev

“A MINHA MÚSICA FAVORITA É A QUE ESTOU REGENDO AGORA", DIZ O MAESTRO DA ORQUESTRA SINFÔNICA DO SHEN YUN

A carreira do maestro Milen Nachev o levou de aulas de piano em casa, na Bulgária, para orientação com os professores mais renomados da época na Rússia, para os Estados Unidos e o Carnegie Hall. E é aqui em Nova York, com a Orquestra Sinfônica Shen Yun, que ele encontrou um novo lar, uma nova satisfação e até um senso de destino.

Neste outono, ele fará parte da maior turnê da Orquestra Sinfônica Shen Yun até agora, abrangendo 18 cidades, incluindo estreias no Japão e Taiwan, bem como um retorno ao Carnegie Hall e ao Kennedy Center. No meio da agitada temporada de ensaios da orquestra sinfônica, sentamos com o maestro para a sua mais reveladora entrevista.

P: Sr. Nachev, você poderia nos contar sobre seu primeiro encontro com a música?

MN: Eu me lembro desse momento. Foi quando minha avó me levou para minha primeira aula de piano. E acredito que esse meu primeiro encontro com a música mudou minha vida completamente — para sempre. Eu tinha apenas 5 anos de idade e estava profundamente apaixonado pela minha professora de piano. Ela me deu muita confiança. Então, um ano depois, eu estava tocando um álbum infantil de Béla Bartók e ela me enviou para uma competição nacional como pianista, a qual eu venci na minha faixa etária. E no mesmo ano aconteceu minha primeira apresentação pública como pianista. Obviamente, estava na frente da família e de amigos — mas era uma audiência real, e a intensidade da apresentação era a mesma.

P: Quando você decidiu fazer da música uma carreira?

MN: Alguns anos depois, aos 9 anos, senti uma satisfação incrível regendo a sinfonia número 4 de Brahms em casa — eu estava regendo um daqueles discos de vinil preto. Eu regi de memória, sendo que nunca tinha visto a partitura, mas o contato físico entre a música e os gestos era algo que se tornou extremamente inspirador para mim.

Na escola de música, aprendi piano e regência de coral. E tive muita sorte de ter os melhores professores da época — professores que não apenas me ensinaram música, mas foram exemplos de vida para mim, como músico e como pessoa. Um deles, o professor Vasil Arnaudov, provavelmente um dos mais famosos regentes de coral da Bulgária, foi a principal razão pela qual eu continuei estudando no conservatório de São Petersburgo, porque ele fez todo o possível para me promover e me enviar para lá.

Naquele conservatório tive a chance de estudar com um homem incrível, o professor Ilya Musin — o professor que ensinou Yuri Temirkanov, Valery Gergiev e muitos maestros famosos. Era um professor que não apenas ensinava a técnica e o desenvolvimento de sentimentos naturais sobre como se comunicar com a orquestra por meio de seus gestos, mas ele era capaz de ensinar muitas coisas através da profissão de maestro, a fim de desenvolver tanto uma personalidade completa quanto um músico completo — na teoria e na prática. Todos os dias, ele nos dava lições sobre a maneira como deveríamos nos comunicar com a orquestra, como deveríamos ensaiar com a orquestra, como fazer para melhorar a orquestra dentro de um período muito limitado de tempo e fazer os músicos acreditarem em suas próprias capacidades. Ele não foi apenas meu professor de regência; ele foi meu segundo pai.

P: Com esse histórico e educação, seguido de décadas de experiência na regência de diferentes orquestras, o que você acha necessário para ser um excelente maestro?

MN: Saber lidar com a complexidade. Você precisa estar não apenas extremamente bem preparado musical e teoricamente, mas também conhecer muito bem a história da música e a capacidade de cada um dos instrumentos da orquestra. Mas o mais importante é que você precisa ser um psicólogo. Nosso trabalho não é com instrumentos — estamos trabalhando com pessoas que tocam instrumentos. Quando você entende esse ponto importante, toda a atitude muda e seu único intuito é receber apreciação das pessoas sentadas à sua frente e ver nos olhos delas que seu comportamento no pódio é uma fonte de inspiração para elas, deixando-as ávidas para dar o seu melhor no palco. Essa é a maior satisfação que um maestro pode receber. E trabalhando com a orquestra Shen Yun, tenho momentos incríveis disso. Eu posso ver a inspiração. Eu posso sentir isso existindo no ar ao nosso redor.

P: Os músicos do Shen Yun praticam a meditação do Falun Dafa e seguem os ensinamentos espirituais da prática em suas vidas diárias. Como isso se relaciona com a música que vocês estão criando e tocando?

MN: Estar em um ambiente de cultivo espiritual ajuda muito. Estamos literalmente vivendo juntos, estudando juntos, desenvolvendo a nós mesmos juntos, meditando juntos — e isso cria uma energia positiva em todo o nosso redor. Não tenho dúvidas de que essa energia positiva ajuda muito quando subimos ao palco.

P: Ao ler as resenhas, parece que espectadores comumente comentam sobre como foram surpreendidos pela energia das músicas.

MN: Há um ditado: “A música começa onde as palavras terminam”. Se eu fosse comparar nossa orquestra Shen Yun com outras orquestras, eu diria que na orquestra Shen Yun nós não estamos apenas executando músicas, tocando notas e melodias. Nós nos aprofundamos no significado da música, até além do lado emocional — a maioria das orquestras vai para o lado emocional, mas nós vamos além — com o intuito de ilustrar o significado mais profundo. É como um código secreto dentro do texto musical que trazemos para o público. Não é necessário que eles entendam o código secreto, mas o efeito e a ressonância estão ali.

E assim, em muitas resenhas de nossas apresentações, você vê pessoas da plateia dizendo que choraram, mas não sabem a razão. Ou elas dizem que se sentem elevadas, mas não sabem a razão. Eu diria que o que principalmente explica isso é a ideia de que, através da meditação, do desenvolvimento pessoal e do aprimoramento pessoal, somos capazes de nos comunicar com o público não apenas através da superfície da música, mas em uma camada mais profunda de significado interno.

P: Você está trabalhando com músicos de todo o mundo. O que os une?

MN: Temos músicos da Austrália, Ásia, Europa, América — e esses são, certamente, instrumentistas de alta qualidade e profissionais de alto nível. É realmente interessante trabalhar com pessoas de países que têm grandes tradições musicais como Alemanha, Itália ou Espanha, mas o poder da música e do ambiente espiritual nos une e nos faz combinar nossos esforços.

Os músicos aqui definitivamente trabalham melhor juntos do que em qualquer outra orquestra que eu já vi. A principal razão é que entendemos que há um significado profundo por trás do que estamos fazendo.

Na verdade, sinto-me extremamente orgulhoso de participar do Shen Yun. Para mim, pessoalmente, as ideias do Falun Dafa correspondem ao meu ponto de vista na vida e às minhas opiniões como ser humano e artista. E também artisticamente, a razão pela qual tenho orgulho é que, de certa forma, o que estamos fazendo com a revitalização da cultura tradicional chinesa — e isso inclui a música — é quase como nossa resposta à Revolução Cultural na década de 1960 na China. Naquela época, não apenas a cultura tradicional chinesa foi quase completamente destruída, mas também muitos dos meus compositores, poetas, romancistas e pintores clássicos ocidentais favoritos foram destruídos — literalmente, suas obras foram destruídas. Eu chamo isso de crime contra a humanidade. A herança artística de vários séculos do mundo destruída em apenas alguns anos.

P: Com sua educação na tradição ocidental clássica e sua formação na Europa Oriental, como você interpreta os temas chineses de Shen Yun?

MN: Primeiro de tudo, sabemos que a música é uma linguagem internacional. Em segundo lugar, essa é uma questão na hora de interpretar músicas de todos os tipos — tive que desenvolver minha intuição musical por muitos e muitos anos trabalhando com estilos diferentes, com diferentes peças de diferentes compositores de diferentes países, que viveram em séculos diferentes. Tudo isso desenvolveu minha intuição musical.

Também tento me familiarizar com o lado folclórico da música chinesa, para entender melhor o potencial e a capacidade de instrumentos chineses como o erhu, a pipa, a suona, etc. E com esse idioma universal, uma vez que a porta de sua consciência está aberta, você pode encontrar facilmente o ritmo certo, a articulação correta e o fraseado certo. Certamente, tenho amigos e colegas trabalhando comigo — conversamos muito com compositores e coreógrafos — e, portanto, estou aprendendo ao mesmo tempo em que estou tentando transmitir meus conhecimentos a eles. É um processo de mão dupla.

P: Você poderia nos dar um exemplo de como isso acontece?

MN: Dois dias atrás, ensaiamos uma peça para três solos de erhu com acompanhamento feito pela orquestra sinfônica. Durante o processo, sem palavras, apenas observando os olhos dos três solistas, eu já sabia o que eles precisavam — que tipo de ritmo eles precisavam, que tipo de base eles precisavam, como nós poderíamos desenvolver juntos a frase — e eu senti que eles também entenderam implicitamente. Quando eu quis iniciar a frase de um ponto e levá-la ao ponto de chegada, eles estavam me acompanhando completamente — sem uma única palavra entre nós.

P: Portanto, é uma comunicação que está muito além do idioma?

MN: Absolutamente. Um nível diferente de comunicação.

P: Quais são alguns dos momentos gratificantes dessa troca?

MN: Há muitos momentos que posso chamar de gratificantes. Um deles é o que acabamos de falar, o momento de plena compreensão mútua entre mim e a orquestra. Essa troca espiritual e comunicação entre nós é algo transcendental, além das palavras. A apreciação que vejo nos olhos dos compositores depois de executar sua obra é outro momento de satisfação. Mas, principalmente, sinto-me recompensado e grato pelo destino, que me dá oportunidade de trabalhar com uma orquestra multinacional e ter a chance de compartilhar com eles o meu ponto de vista.

P: O que você acha que é esse senso de destino?

MN: Eu acho que é esse sentimento de que você está no lugar certo, quando se sente confortável e apreciado. Esse é o meu sentimento — que eu encontrei meu lugar. Mesmo olhando para trás — certamente, tive a oportunidade de permanecer na Europa e liderar uma das orquestras europeias, isso não seria um problema — mas eu queria me provar em uma situação completamente diferente. Quando cheguei aos Estados Unidos, poucas pessoas sabiam sobre mim, sobre meu histórico ou minha experiência anterior. Então eu tive que começar do zero e tive que esperar muitos anos para receber esta oportunidade. E quando percebi que isso não se trata apenas de desenvolvimento profissional, mas está em profunda harmonia com minha alma e com o que sinto pelo mundo, eu disse: “Uau, você encontrou seu lugar. Agora, a única coisa que resta é fazer o seu trabalho da melhor maneira possível".

P: Existe alguma peça em particular que você deseja compartilhar com o público nesta próxima turnê?

MN: Para mim, cada uma das peças do programa está associada a diferentes tipos de lembranças, porque tocamos quase todas com a nossa companhia de dança ao redor do mundo. Cada peça está particularmente perto do meu coração — e não apenas porque eu regi 119 apresentações na última temporada. As pessoas me perguntam: "Qual é a sua música favorita?" A minha música favorita é a que estou regendo agora. A música que eu vou reger no próximo ano será minha música favorita. Portanto, este é um tipo muito especial de relacionamento.

P: Quando as pessoas vierem ver a Orquestra Sinfônica Shen Yun, o que você acha que mais as impressionará em termos musicais?

MN: Eu sinceramente acredito que elas vão se surpreender com o som vindo do palco. O som será extremamente único devido à combinação de instrumentos ocidentais e orientais. Estamos trabalhando duro para alcançar o melhor conjunto possível, é realmente um trabalho muito duro que estamos fazendo, mas queremos ser conhecidos por nosso conjunto. Além disso, estamos trabalhando muito no equilíbrio de diferentes grupos de instrumentos. Sempre queremos tornar a melodia extremamente transparente. Ao mesmo tempo, queremos que cada detalhe único dentro da partitura seja tão claro e articulado, para que nós estejamos trazendo um espectro diferente de cores por trás da melodia. Então, estamos trabalhando em muitas dimensões. Se você der uma olhada na partitura do maestro, não apenas verticalmente, como harmonia, equilíbrio, orquestração, mas também horizontalmente, estaremos usando cada uma das formas para tornar a música mais impressionante e criar um impacto realmente sério para o nosso público. Queremos dar ao público não apenas satisfação emocional, mas a experiência de descobrir um mundo completamente diferente por trás da música.